quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ANIMAÇÃO SÓCIO-CULTURAL


O QUE É A ANIMAÇÃO SÓCIO-CULTURAL?

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Definição:


 

"A Animação Sócio-Cultural é um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa, bem como a participação das comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sócio-política em que estão integrados." (UNESCO)

 

Contextualização histórica:

O aparecimento da animação sócio-cultural (ASC) esteve directamente relacionado com a Revolução Industrial  e com todas as transformações e mudanças que daí resultaram. As pessoas saíram do campo para a cidade para trabalharem nas fábricas, o que deu origem ao crescimento da população urbana e à desertificação rural provocando grandes alterações no sistema social e familiar. 


Assim como a sociedade, a ciência evolui no sentido do desenvolvimento tecnológico e informático despoletando a necessidade de uma educação permanente para constante actualização de conhecimentos ao longo da vida. O incremento do tempo livre foi uma conquista da revolução industrial através do reconhecimento da sua importância e da sua inscrição enquanto direito do ser humano, e está directamente ligada à ASC.


Acima de tudo, a rapidez com que se deram essas transformações e mudanças dificultaram a adaptação da sociedade às novas exigências, realidades e problemas, criando as condições necessárias para o aparecimento e implementação da ASC.


A ASC mune-se de metodologias participativas e activas para promover a implicação responsável e livre dos indivíduos na comunidade onde se inserem, tornando-os protagonistas do seu próprio desenvolvimento. 


Para melhor podermos compreender o sentido, a extensão e as possibilidades do conceito de ASC, optámos por apresentar as suas principais dimensões, referimo-nos à dimensão cultural, social e educativa.


Um dos conceitos fundamentais ligado ao discurso teórico da ASC é o de cultura, o que nos remete desde logo para a sua dimensão cultural. O conceito de cultura é extremamente rico e extravasa várias disciplinas e ciências apesar de até ao século XV a palavra cultura  só se aplicar ao trabalho da terra. 


Etimologicamente, cultura deriva do verbo latim "colere" que significa o acto de "cultivar a terra", como também o de "honrar, render culto, tributo, em especial aos deuses" (Ander-Egg, sd:18). 


Ortega e Gasset citados por Ander-Egg (sd:15) defendem que a vida é um conjunto de problemas essenciais a que o homem dá resposta através da cultura, ou seja, a cultura permite-nos encontrar resposta para os problemas da vida. Como um problema pode ter diversas formas de resolução, podemos concluir que existem muitas culturas.


Contudo, a ideia de cultura que interessa à ASC é extraída da antropologia cultural expressa na definição do antropólogo britânico Tyler (1871) citado por Quintas e Sanchez (1995: 14 ) e que define cultura como "aquele conjunto complexo que abarca os conhecimentos, as crenças, a arte, o direito, a moral, os costumes e os demais hábitos e aptidões que o homem adquire enquanto membro da sociedade". A cultura é tudo aquilo (conhecimentos, valores, tradições, costumes, etc.) que se transmite e adquire socialmente, ou seja, é fruto da própria vida social. 


Mais do que perceber e situar o conceito de cultura é também necessário abordar o que a ASC faz ao nível da cultura, assim torna-se inevitável fazer referência a dois conceitos inerentes a esta questão: a democracia cultural e a democratização cultural.


Na democratização cultural pretende-se "elevar o nível cultural das massas" (Grosjean e Ingberg, 1980: 98 citados por Trilla, 1997: 17 ), supõe uma perspectiva elitista, reservada a uma minoria, já que a cultura é vista como um património que deve ser conservado e difundido mas, cuja a produção, fica a cargo de grupos restritos da sociedade. A esta realidade Bassand (1992: 132-140) citado por Calvo (2002:39 ) apresenta uma terminologia diferente avançando com a ideia de "dinâmica cultural descendente", vista aqui como uma forma de dar a possibilidade aos que estão abaixo da escala social "os deserdados da cultura" este "suplemento de espírito" indispensável para o bom funcionamento da ordem social. 


A ASC tem como função fazer circular todo o tipo de discurso cultural e gerar processos de participação de maneira mais ampla possível(Ander-Egg, 1999: 25 ). Já ao animador cabe fazer a mediação entre a arte e o público e facilitar a divulgação dos bens culturais.


A democracia cultural expressa uma orientação distinta, é uma forma de entender o trabalho cultural baseado nos princípios de participação e diversidade. Com a democracia cultural pretende-se assegurar a cada indivíduo os instrumentos necessários para que com liberdade, responsabilidade e autonomia se possam desenvolver culturalmente. Existe uma participação cultural activa das pessoas na produção e fruição dos bens culturais. Bassand (1992: 149) citado por Calvo (2002:40 ) identifica a democracia cultural como "a dinâmica cultural ascendente" em que os "os indivíduos não são simplesmente engrenagens que funcionam segundo os estímulos das hierarquias sociais" têm antes a capacidade "de criar modelos e práticas culturais que lhes são próprios". 


Todavia, não se deverá exagerar nesta demarcação entre democracia e democratização cultural assim como refere Calvo (2002: 40 ), que também defende que a ASC e a difusão cultural não são duas formas de intervenção necessariamente opostas mas sim complementares e que actuam ao nível cultural.


Porém, torna-se pertinente assinalar as principais diferenças entre estas duas formas de intervenção. 


A ASC tendo como principal preocupação os interesses e aspirações dos indivíduos, leva a cabo um conjunto de acções que potenciam o seu próprio desenvolvimento e contribuem para a sua autonomia a vários níveis (cultural, psicológico, social, afectivo e político), estando presente uma atitude anti-autoritária, no sentido de provocar a participação activa.


Na difusão cultural apela-se ao consumo cultural, o indivíduo é visto como um mero espectador e receptor da cultura, o que dá lugar à alienação e à passividade.


Não podemos deixar de referir que a ASC contribui para o desenvolvimento cultural da sociedade, entendido como "a promoção das condições institucionais favoráveis e das competências necessárias à criação de obras e saberes, sejam eles tratados de filosofia ou receitas culinárias, danças tradicionais ou música de vanguarda, conhecimentos políticos ou aptidões técnicas, artesanato ou domínio de línguas estrangeiras, exercícios desportivos ou assistência a espectáculos, pintura ou frequência de museus" (Santos Silva, 1988: 30 citado por Banha et al 1994: 663 ).


Ligado ao desenvolvimento cultural está o conceito de tempo livre que surgiu em meados do século XX e tem a sua época de esplendor na actual sociedade pós-industrial. Os avanços tecnológicos e a modernização industrial permitiram a diminuição do tempo de trabalho e consequente aumento do tempo livre. Assim surge o conceito de ócio cultural que Lagrange (citado por Debesse e Mialaret, 1988:149)  define como uma forma de "permitir às massas o acesso a grandes obras culturais, de estender ao povo a cultura existente, de que o povo elabore uma cultura nova". 


O animador sociocultural assume uma importante função de mediador e facilitador das práticas culturais nos tempos livres, de forma a contribuir para o desenvolvimento cultural de um colectivo, grupo ou comunidade.


O facto da ASC se centrar num colectivo, grupo ou comunidade revela à partida a sua dimensão social.


Warburton (1998) citado por Calvo (2002: 21 ) alerta para o facto de em ASC o termo "comunidade" ser mais utilizado do que o conceito de "sociedade" porque, enquanto intervenção não afecta "toda a sociedade", mas sim grupos ou colectivos inseridos num contexto de uma "comunidade" específica, num território concreto. No fundo, é por desenvolver uma acção contextualizada e enraizada em âmbitos territoriais concretos que a ASC se diferencia de outras formas de actuação. 


Ao analisarmos a génese da ASC concluímos que estiveram presentes grandes remodelações estruturais em toda a sociedade provocadas pela revolução científica e técnica que se assistia com a industrialização, o que potenciou o risco de inadaptação face a tantas mudanças e transformações. A ASC surgiu para ajudar os indivíduos a adaptarem-se à comunidade e para prevenir e estar atenta a fenómenos de "sobreadaptação" que provocam a despersonalização, o conformismo, a alienação e a passividade.


A ASC trabalha no sentido do desenvolvimento comunitário incrementando "uma intervenção estruturada que permita às comunidades um maior controlo sobre as condições que afectam as suas próprias vidas. Trata-se, definitivamente, de um processo através do qual se pretende suscitar entre os membros da comunidade a participação nas tarefas da colectividade, na gestão dos seus próprios problemas e necessidades com o objectivo último de alcançar uma melhoria generalizada e global da qualidade de vida" (Fundação de Desenvolvimento Comunitário Britânico citado por Calvo, 2002: 23 ). 


O que se pretende com a ASC é a transformação da comunidade a partir da dinamização, mobilização e implicação dos indivíduos para atingir o desenvolvimento dessa mesma comunidade. 


A ASC actua para superar desigualdades sociais, dar liberdade à expressão dos mais desfavorecidos e dos excluídos, sendo que para isso o animador necessita de trabalhar com outros profissionais. Pretende também criar estratégias, planos de actuação, e metodologias operativas de intervenção, considerando-se assim a ASC como uma tecnologia social. 


Segundo Úcar (1992: 109) citado por Trilla (1997: 177 ) a ASC como tecnologia social caracteriza-se por uma intervenção racional e sistematicamente planificada, resultado de um processo de reflexão sobre a realidade, que enquadra um contexto e opções ideológico-políticas vigentes e tenta responder eficazmente às necessidades e problemáticas concretas de um grupo social ou comunidade, através da articulação sistemática, num desenho tecnológico de conhecimentos científicos ministrados por diferentes ciências (psicologia, sociologia, comunicação, pedagogia, etc).


A ASC é uma estratégia de intervenção que, trabalhando por um determinado modelo de desenvolvimento comunitário, tem como finalidades ultimas promover a participação e dinamização social a partir dos processos de responsabilização dos indivíduos na gestão e direcção dos seus próprios recursos (Trilla, 1997: 297 ). 


Este desenvolvimento comunitário potencia o fortalecimento da sociedade civil através da aprendizagem da democracia que se realiza essencialmente ao nível associativo e da distribuição e repartição do poder económico, social, educativo, cultural e político, favorecendo a igualdade de oportunidade para todos os elementos da comunidade.


Portanto, a ASC poderá ser vista como um "antídoto eficaz" contra as patologias de uma sociedade que resultam das rupturas comunicacionais, do alheamento individual, da perda de referências e de todas as garantias sociais que davam a segurança existencial ao indivíduo, actuando na tentativa de alcançar a organização da vida social e cultural, e particularmente durante o tempo livre, visto ser um momento privilegiado para a formação integral dos indivíduos.


É, portanto, inegável o facto de que a ASC insere na sua prática componentes educativos, tem uma dimensão educativa apesar de educação e ASC não serem "conceitos equiparáveis por terem extensões semânticas desproporcionalmente desiguais" Trilla (1993:115 ).


A educação está intimamente ligada ao processo de socialização (à transmissão de valores, normas, crenças e comportamentos) e de uma forma mais restrita "o termo educação designa todo acto ou acção intencional, sistemática e metódica que o educador realiza sobre o educando para favorecer o desenvolvimento das qualidades morais, intelectuais ou físicas que toda pessoa possui em estado potencial" (Ander-Egg, 1999:31 ). 


O universo educativo pode ser dividido em três áreas: formal, não formal e informal. A educação formal remete-nos para a existência de um currículo, é uma actividade organizada e sistemática que acontece em instituições educativas formais (escolas, universidades); a educação não-formal é toda a actividade organizada, sistemática, que acontece fora do sistema formal; a educação informal é um processo educativo não organizado que decorre ao longo da vida da pessoa proveniente das influências educativas da vida diária e do meio ambiente (Quintas e Castaño, 1998: 99 )


É habitual situar a ASC basicamente no sector não formal mas assiste-se cada vez mais à permeabilização da fronteira entre estes três sectores educativos e, Trilla (1997: 28 ), defende mesmo que a ASC poderá colaborar nesta tarefa de interligação das várias dimensões da educação. 


Actualmente, tendo em conta a evolução do próprio conceito de educação que antes era entendido e associado estritamente aos parâmetros escolares e formais, vários autores defendem o papel da ASC nas várias vertentes da educação. Se a ASC pretende alcançar o desenvolvimento de capacidades e atitudes de participação na vida social e cultural de uma sociedade através de uma intervenção estruturada, torna-se assim evidente o seu carácter formal. Trilla (1993 citado por Quintas e Sánchez, 1995:32 ) refere que apesar da inclusão da ASC no âmbito educativo não formal também "se projecta nos outros dois âmbitos que definem o universo educativo - educação formal e informal - pelos contextos em que actua e pelas actividades que promove".


Portanto, situar a ASC apenas no sector não formal torna-se algo redutor pois os seus programas acontecem em contextos institucionais não formais (como universidades populares, centros de educação do tempo livre); em contextos educativos informais (como por exemplo em espaços urbanos abertos) e também em contextos institucionais próprios da educação formal (como as escolas).


O próprio conceito de educação tem sofrido mutações, não é uma tarefa exclusiva da escola, significa muito mais do que simplesmente instruir e não existe uma idade própria ou específica para se ensinar. A educação enfrenta novos desafios e exigências, assume novas responsabilidades e tarefas. 


Na perspectiva de Lengrand (1970:55-56 ) as novas responsabilidades da educação passam por: "favorecer o estabelecimento de estruturas e métodos que ajudem o ser humano, ao longo da sua existência, a prosseguir a aprendizagem e a formação; e equipar o indivíduo para que ele se torne o mais possível, o agente e o instrumento do seu próprio desenvolvimento graças às múltiplas modalidades do autodidactismo". 


Isto claramente direcciona-nos para a ASC e também para a questão da educação permanente. 


Segundo a UNESCO citado por Quintas e Sánchez (1995:32 ) a educação permanente engloba todos os processos educativos que afectam o ser humano; é um processo contínuo ao longo da vida. A educação deixa de ser reduzida ao contexto estritamente escolar, contribuindo de forma profunda para a evolução do conceito de educação, para a pluralidade e diversidade de abordagens e práticas educativas actuais. 


A este nível a ASC assume a importante função de promover e garantir que este processo contínuo de educação se concretize, motivando os indivíduos e procurando superar atitudes de apatia e fatalismo em relação ao esforço para aprender durante toda a vida. Pretende-se criar condições para a igualdade de oportunidades no que se refere ao desenvolvimento pessoal, à criatividade e à expressão não competitiva, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida do grupo.

 

Fonte: http://www.apdasc.com


Obrigado pela leitura
Um abração

FELIPE DIAS - TIO PÃO
RECREAÇÃO PROFISSIONAL E TURISMO
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